segunda-feira, 28 de julho de 2014

Editores de redes sociais falam sobre estratégias para fisgar o leitor na web

Autores: Christh Lopes e Lucas Carvalho

"O meio é a mensagem". Com a consolidação da internet no Brasil, a frase faz cada vez mais sentido. Não é à toa que veículos de comunicação têm se adaptado e desenvolvido formas de popularizar seus conteúdos nas redes sociais. Diante do bombardeio de notícias apresentado na timeline do leitor, sai na frente quem conseguir fisgar sua atenção, e de quebra, conquistar likes, compartilhamentos e comentários.

Para Ygor Salles, responsável pelas redes sociais da Folha de S. Paulo, tudo começa com o objetivo principal do social media: “ser o mais direto possível”. A seriedade no trabalho também é fundamental, “mas também há espaço para alguma gracinha”, explica.

O profissional explica que as brincadeiras em publicações estão ligadas ao perfil do público, majoritariamente jovem na web. Em pesquisa recente divulgada pelo IBOPE Media foi constatado que 85% dos internautas são jovens e que 93% navegam nas redes sociais.

Para complementar a informação e atraí-los, a escolha da imagem que ilustra o texto também é fundamental. “Uma foto sempre reterá mais a atenção do leitor que um post só com texto, principalmente quando ele já desceu alguns scrolls de tela”, avalia o jornalista. Segundo ele, o social media não deve subestimar o público. Salles, por exemplo, afirma que já caiu nesta “armadilha”, de considerar o consumidor do conteúdo “preguiçoso”.

“Em vários casos é mesmo, mas percebi que temos uma competição cada vez maior pela atenção dele. Então, não é que o leitor não quer ler um texto longo, é que ele sabe que tem muita coisa para ler e, se um texto começa a ficar entediante, ele passa logo para o próximo”.

A sensação de perder o interesse do internauta conforme o tamanho de um texto na rede social ocorre principalmente ao formular um post. “Se tiver mais que cinco ou seis linhas, dificilmente prenderá a atenção o suficiente para que cliquem no link, que é o nosso objetivo final”.

Sobre a linguagem, o executivo afirma que o meio possui certa liberdade para alguns termos, usando elementos que não são comuns nos textos do jornal impresso ou do portal do diário na internet. “Usar bordões comuns da websfera (por exemplo, um "pode isso, Arnaldo?" quando acontece algo bizarro), e hashtags – palavras-chave clicáveis em publicações”.

Descomplicando
Simples, chamativo e direto. A estratégia adotada pelo editor de mídias sociais de O Estado de S. Paulo, Gabriel Pinheiro, foca na informação precisa com chamadas concisas. “Simplificamos ao máximo: evitamos termos técnicos, siglas desconhecidas e linguagem rebuscada. Temos um público bastante jovem que acompanha o noticiário através das nossas redes sociais”.

O profissional também aposta no bom trabalho para alcançar resultados positivos. Se a chamada da postagem é bem feita e se o assunto for de interesse do público, o clique será apenas uma consequência, um “resultado natural de um trabalho de edição bem feito”.

“No Facebook e Google+, por exemplo, entregamos sempre a melhor foto possível, fazemos títulos claros, em ordem direta, e ficamos sempre atentos ao timing (notícia quente deve ser divulgada na hora, não pode esperar)”, completa. As postagens da página do jornal nas redes sociais seguem uma linguagem própria, assim como o jornalismo online e impresso.

Contato imediato
A relevância das informações é fundamental para determinar o que será publicado em uma rede social administrada pelo portal UOL. O gerente geral de interação do veículo, Marcos Lavieri, acredita que o processo de publicação envolve um “eterno exercício de tentativas e erros’.

“O público reage muito rápido, para o bem e para o mal, por isso é importante acompanhar de perto o desempenho de cada publicação. Há assuntos que, sozinhos, vão bem, por causa da oportunidade de oferecer ao público aquilo que ele quer naquele instante. Isto ‘salva’ chamadas não tão atraentes”, afirma.

Por outro lado, Lavieri ressalta que a linguagem utilizada pode pesar muito no que será repercutido pelos usuários. Com a liberdade do meio, cada tópico permite variações de formato de texto, deixando o post mais parecido com uma conversa. A grande sacada é não entregar todo o conteúdo, incentivando o leitor a querer mais.

Sem a necessidade de passar a informação com profundidade, o perfil do portal na rede social tem como objetivo atrair o leitor. “Nosso trabalho é, com as chamadas, tentar convencê-lo naquele instante da visualização do post de que vale a pena clicar e saber mais sobre o assunto”.

Títulos virais
É comum acompanhar na linha do tempo de qualquer rede social os chamados títulos virais, que apenas oferecem uma parte da informação para o leitor, sugerindo que ele clique no link para ter a informação completa. Ainda que a estratégia garanta o objetivo do social media, ela não é bem vista pelos editores ouvidos por IMPRENSA.

Pinheiro, do Estadão, prefere apostar nas “chamadas bem feitas, que entregam uma informação e chamam para outra”. Chamadas com "assista: você vai se emocionar" ou "clique para descobrir alguma coisa incrível" são vetadas nas nossas redes”, afirma.

“Avaliado como uma ferramenta eficaz, o título viral tem ganhos a curto prazo, mas pode dar prejuízos no futuro. Se o leitor clicar e não gostar, ele se sente enganado e reclama, apesar do site ganhar o clique na hora”, diz. Na avaliação de Salles, esses recursos podem comprometer a credibilidade do veículo ao sugerir algo que não se cumpre no texto linkado. “Mas admitimos que títulos à la Buzzfeed podem ser usados com moderação quando o assunto não for tão sério ou se encaixem melhor ao estilo. Textos com listas e rankings, por exemplo”.

Segundo Lavieri, a estratégia pode ser considerada como o “spam”, aqueles e-mails que são enviados para um grande número de pessoas sendo que a maioria não havia solicitado o recebimento do mesmo. Geralmente, tem em seu conteúdo promoções e vírus. Mesmo com as proteções dos servidores do correio eletrônico, ele continua presente.


“Ele [título viral] existe porque dá certo, ganha-se na escala. Quando não der mais certo, deixará de existir. O segredo é nunca enganar o leitor, que se depara com uma chamada promissora para uma notícia desinteressante”, finaliza.

FONTE: CorpTV

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