segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Tecnologia: o que esperar em 2013?

Estamos no final de 2012. E, aparentemente, os maias erraram.

Aliás, prever o futuro é quase impossivel. De maneira geral a previsões falham porque não conseguimos identificar as informações realmente relevantes em meio ao ruído de dados e informações que nos cerca. Muitas vezes, limitados pelas nossas experiências, presumimos que a realidade atual vai se repetir indefinidamente. E não consideramos disrupções e quebra de paradigmas.

Em fins do século XIX, o jornal londrino The Times previu que a sujeira dos cavalos soterraria Londres em menos de 40 anos. Mas poucos anos depois surgiu o automóvel, que foi uma disrupção nos meios de transporte. Na área de TI os últimos dez anos trouxeram muito mais mudanças que os 50 anos anteriores. Portanto, há dez anos nenhuma tendência incluiria smartphones, tablets, Facebooks e Twiters (leia-se mídias sociais) e cloud computing. E com a aceleração crescente das mudanças tecnológicas, as chances de acerto de qualquer previsão diminuem drasticamente!

Interessante que todo final de ano os analistas de indústria insistem em publicar suas previsões para o ano seguinte. Em minha opinião, prever tendências tecnológicas é bem diferente de lançamentos de moda. Não existe a cor do ano, mas tendências que vão se consolidando com o tempo. Muitas vezes, ao olharmos em curto prazo, não conseguimos distinguir grandes diferenças, pois nossa percepção das mudanças é linear. Somente com o passar do tempo é que sentimos quão impactante foi para a sociedade e as empresas o surgimento de uma determinada tecnologia ou conceito.

Assim, neste post vou dar minhas opiniões (e enfatizo que são pessoais) do que provavelmente veremos acontecer nos próximos cinco anos.

Creio que, nos próximos cinco anos, ficará claro que a convergência tecnológica de quatro forças ou ondas que ainda estão em formação, ou mesmo ainda são tsunamis em alto mar, estarão causando disrupções significativas na indústria de TI e no uso da tecnologia. Sim, falamos de cloud computing, mobilidade, social business e Big Data. Olhá-las de forma isolada é enganoso. Mas juntas provocam uma transformação na tradicional TI como nós conhecemos.

Interessante que observo que ainda existe muita relutância em adotar estas tecnologias. Encontro algumas explicações para o fato. Uma é que os avanços tecnológicos têm se tornado tão rápidos que ultrapassam nossa capacidade de entendê-los e utilizá-los de forma diferente das que usamos hoje. Não reconhecemos a quebra de paradigmas que eles embutem.

Thomas Kuhn, no seu fantástico livro “The Structure of Scientific Revolutions”, disse : “Think of a Paradigm Shift as a change from one way of thinking to another. It’s a revolution, a transformation, a sort of metamorphosis. It just does not happen, but rather it is driven by agents of change”. Mas é difícil perceber estas mudanças quando estamos no meio delas. Mais difícil ainda é começar a pensar de forma diferente quando todos os outros pares pensam sob o paradigma dominante. O efeito “multidão” é altamente inibidor. Apenas reconhecemos que o que temos não nos atende mais, mas ainda não percebemos que um novo paradigma já está sobre nós.

Outra explicação é a tradicional relutância diante do novo. Douglas Adams, famoso escritor de ficção, autor do conhecido “O Mochileiro das Galáxias”, escreveu: “Everything that’s already in the world when you’re born is just normal. Anything that gets invented between then and before you turn 35 is incredibly exciting and creative and, given opportunity, you can make a career out of it. Anything that gets invented after you’re 35 is against the natural order of things and the beginning of the end of civilization as we know it, until it’s around for about 10 years, when it gradually turns out to be alright”.

As áreas de TI, que antes eram porta de entrada das tecnologias nas empresas, estão sendo sobrepujadas pelos usuários. Vem deles a adoção de tecnologias inovadoras e a força da chamada “consumerização de TI” é muito mais impactante do que parece à primeira vista. Na verdade, desloca o eixo gravitacional da adoção de TI para fora da TI, pela primeira vez na história da TI corporativa. Esta nova geração de TI pode ser definida de forma simplista como de uso fácil e intuitivo, altamente móvel e social. Bem diferente da TI do teclado e mouse, que precisa esperar meses pela aquisição e entrada em operação de servidores físicos, além de armazenar e tratar as informações basicamente para atender aos sistemas transacionais. TI é hoje uma organização centralizadora, gerenciada por processos, que pastoreia seus usuários, definindo o que pode e o que não pode ser usado. Mas em cinco anos continuará assim? Pesquisas mostram que, em 2016, 80% dos investimentos de TI envolverão diretamente os executivos das linhas de negócio, e que eles serão os decisores em mais da metade destes investimentos.

Uma TI tradicional, com seu imenso backlog de aplicações, conseguirá justificar durante muito tempo todo este aparato quando, com um simples clique de um botão virtual em um tablet, podemos fazer download de uma aplicação intuitiva e fácil de usar (dispensa manuais), contratar serviços de um aplicativo SaaS ou, até mesmo, disparar um processo de criação de uma aplicação inovadora, como pode ser feito por serviços como o TopCoder?

Hoje vejo que existem duas percepções diferentes. TI olha a vinda destas tecnologias sob sua ótica tradicional e as tenta colocar sob o paradigma de comando e controle pela qual o próprio departamento de TI foi construído. Por outro lado, os usuários não querem mais ser tutelados desta forma. E aí, creio que neste ponto, é que veremos as tendências se consolidando nos próximos anos. Estes tsunamis tecnológicos nos obrigarão a buscar uma convergência das visões e percepções tanto de TI quanto dos usuários. Os extremos tentarão encontrar o ponto de equilíbrio. Mas, para mim, uma consequência é indiscutível: TI não poderá mais se manter burocrática e quase ditatorial como hoje. Caso se mantenha indiferente ou contrária a estes movimentos, o termo “shadow IT”, que hoje denomina a TI que corre por fora do controle da área de TI, impulsionada pelos usuários, passará ser a denominação da própria TI…

Mobilidade
Analisando as tecnologias, começando pela mobilidade, vemos que em 2 a 3 anos o número de tablets vendidos anualmente ultrapassará o de PCs. E por que as empresas ainda não tratam os tablets com a mesma importância que os PCs? Em muitas empresas, tablets ainda são considerados “coisa de usuário”, e TI gerencia apenas os PCs. Uma explicação simples: TI se estruturou ao longo destas duas últimas décadas em torno do ambiente cliente-servidor e dos PCs baseados em Windows. iOS, Android e HTML5 são novidades (o iPad surgiu em 2009!), são territórios ainda não mapeados e, portanto, geram receios para explorações. Os processos de BYOD (Bring Your Own Device) e mesmo BYOC (Bring Your Own Cloud) não podem ser combatidos, mas TI deve ajustar seus processos a eles. Proibir uso de aplicativos e facilidades como DropBox não será uma medida aceita por muito tempo. Por outro lado, TI não pode ignorar suas responsabilidades com a segurança e a integração de dados e sistemas. Portanto, a única alternativa é buscar conciliar o modelo tradicional de controle implementado no mundo dos PCs com a liberdade de acesso das apps stores. Neste item, a tendência não é apenas o uso crescente da mobilidade, que já é um fato, mas a transformação que a área de TI deverá fazer para entender e incentivar (e não inibir) estas tecnologias.

Mídias Sociais
Se olharmos as mídias sociais veremos uma sinergia muito grande com mobilidade. Pelo menos metade dos usuários do Facebook acessa a plataforma via smartphones e tablets. Facebook, por exemplo, é a quarta aplicação em número de downloads para aparelhos Android. O mundo está cada vez mais móvel e social, e social business já é realidade. Social business não é apenas uma conta no Twitter ou uma fan page no Facebook, mas uma verdadeira transformação nos negócios. Recomendo ler o relatório da McKinsey, intitulado “The social economy: unlocking value and productivity thhrough social technologies”, para termos uma ideia do seu impacto. Bem, social business não é da competência de TI. É uma transformação dos negócios que deve ter suporte de TI. Novamente um desafio para o setor de TI: como potencializar (entrar no mundo do “social everything”) e não inibir o uso de plataformas que muitos CIOs nem usam?

Cloud Computing
Outro conceito que aparece com destaque é cloud computing. Também não considero mais uma tendência, mas realidade. Até o fim da década nem mais usaremos o termo cloud computing, mas apenas computing, pois este será o modelo (ou paradigma computacional) dominante. Interessante que ouço alguns questionamentos, como segurança, de gestores de TI que têm um data center de pequeno a médio porte, e que nem aos menos têm uma politica de segurança colocada em prática… Me parece que é a percepção que a segurança é dada pela sensação de controle fisico, quando o servidor está sob suas vistas. O que, na verdade, é uma percepção falsa, pois os bits acessados ou alterados indevidamente não são vistos fisicamente… Na média, um típico data center apresenta mais indisponibilidades (outages) que um data center de um bom e confiável provedor de nuvem. Cloud Computing também vai proporcionar a criação de novos modelos de negócio, em todos os setores, inclusive TI. A consultoria IDC estima que, por volta de 2016, cerca de ¼ do espaço dos grandes data centers americanos serão de provedores de cloud, e que a Amazon se tornará um dos fornecedores de servidores top 3, embora estes sejam virtuais.

Big Data
E finalmente Big Data. Segundo a IDC, em 2013, o universo digital, o total de dados criados e replicados, será de 4 ZB, quase 50% mais que este ano e quatro vezes maior do que em 2010. Mas a maioria das empresas ainda não percebeu o tsunami que é Big Data, porque ele ainda está em alto mar. Mas rapidamente estará no litoral, provocando disrupções. Em minha opinião, Big Data embute tanto o potencial de mudanças quanto nanotecnologia e computação quântica. Os desafios que Big Data ainda apresenta são inúmeros, mas eu acho que o principal é a falta de expertise e skills para lidar com o conceito e suas tecnologias. A demanda por novas funções, como CDO (Chief Data Officer) e data scientist, começarão a exigir respostas rápidas da academia. Big Data demanda conhecimento em novas tecnologias e, principalmente, mudanças no mindset da empresa. Seu valor está diretamente relacionado com o conceito de openness, ou seja, a empresa sem silos entre departamentos e mesmo aberta a conexões com clientes e parceiros.

Portanto, ao falar de tendências não se atenha a tecnologias, mas às mudanças pontuais que já estamos observando e que, em breve, estarão claramente disseminadas e visíveis nas áreas de TI e, também, por consequência, nos provedores de serviços e produtos de TI. A área de TI, caso não queira ser relegada a um simples departamento de PBX, deverá ser redesenhada. Deverá entender, adotar e aceitar o papel de liderar as transformações que a tecnologia está (e estará) exercendo sobre as empresas nos próximos anos. Portanto, a principal tendência para os próximos anos, é a mudança do papel de TI, passando a ser o impulsionador das transformações de negócio, e não mais um centro de custo subordinado ao CFO ou diretor administrativo.

FONTE:CorpTV

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