sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Filhos ensinam e inspiram os pais na adoção de novas tecnologias

Com apenas 7 anos, Cecília criou um perfil do pai no Facebook para eles se comunicarem mais rápido. Como ela mora com a mãe, Cecília sugeriu a rede social como uma forma de ficar mais conectada com Delano de Valença Lins, de 44 anos. “A Cecília tem e-mail, mas só responde mensagens SMS ou pelo Facebook. Na idade dela, ela já não entende que e-mail é algo rápido para se comunicar”, conta Lins.
No Dia dos Pais, famílias relatam casos em que os filhos seguiram o caminho oposto do esperado: em vez de os pais ensinarem algo aos filhos, foram eles que aprenderam novidades com a geração conectada, que também serve de inspiração para experimentos tecnológicos.

Depois que Cecília criou a conta no Facebook para o pai, Lins começou a acessar a rede social diariamente. “Sempre tento falar com ela pelo Facebook e, por causa disso, passei a me conectar com outras pessoas e hoje uso o site também para o trabalho. É uma ferramenta de comunicação instantânea”, opina.

Uma pesquisa realizada pela empresa de softwares de sergurança Trend Micro em sete países revelou que quase metade dos filhos de 1.419 pais entrevistados têm contas em redes sociais. Conforme a pesquisa, as crianças brasileiras estão começando a usar as redes sociais mais cedo do que em outros países, a partir dos 9 anos, em média.

Smartphones
Cecília já ganhou um iPad e um iPhone e ajuda o pai a buscar e a baixar aplicativos. “Ela sempre me mostra programas que encontrou para mim”, conta Lins. “Um dia, eu precisava de um aplicativo que controlasse as minhas atividades físicas. Ela me viu conversando com os amigos sobre isso e foi até a loja da Apple procurar um programa para mim”.

Enquanto Cecília já é familiarizada com as novas tecnologias, Lins ainda busca ajuda pelos meios tradicionais. “Quando vamos ao cinema, ela me diz que vai ‘perguntar ao Google’ sobre o melhor filme”, conta. “Aos 44 anos, eu não tenho essa intimidade. Normalmente, eu não iria ao Google buscar certas informações. Se eu quero ir ao cinema, eu ligo para um amigo para pegar uma indicação”, diz.

O mesmo estudo da Trend Micro revelou ainda que 17% dos pais em sete países adquiriram um smartphone, em vez de um celular comum, para seus filhos. A porcentagem é mais alta no Brasil (27%) onde mais de 90% dos pais disseram orientar as crianças sobre o uso do smartphone.
Há cerca de dois anos, o executivo de tecnologia e analista de sistemas Luis Rogério de Souza Neto, de 45 anos, trocou as chamadas de voz pelos torpedos para se comunicar com as filhas pelo serviço BBM (BlackBerry Messenger), que permite a troca de mensagens gratuitamente entre aparelhos BlackBerry conectados à internet. “Essa geração é tecnológica. É BBM, Facebook, WhatsApp. Quem usa e-mail é velho”, diz o pai de Fernanda, de 19 anos, e Beatriz, de 14 anos.

A iniciativa partiu da filha mais velha, que pediu um aparelho para se comunicar com as amigas, que já usavam o BBM. “Comecei a usar [o serviço] porque elas disseram ‘poxa pai, você não está registrado no BBM?’”, conta Neto. “Costumo desabilitar os sons do celular, mas elas começavam a me cobrar porque eu não ouvia as mensagens e me fizeram colocar um alerta sonoro”.

Hoje, o pai troca uma média de dez a 15 mensagens com as filhas diariamente. “Sempre que elas querem me perguntar algo me escrevem. Tenho contato muito próximo com elas”, afirma.

A fatura do celular também colaborou com a adoção do serviço de mensagens. “Minha filha, na época com 17 anos, estourou a conta dela só com torpedos. Dos R$ 500 cobrados na fatura, R$ 180 eram de mensagens”, conta o executivo.

Mesmo com dois anos de prática nos torpedos em família, Neto ainda recebe recomendações das filhas sobre o tom das mensagens. “Elas dizem que sou muito antipático no BBM porque dou respostas curtas”. Do lado paterno há muita preocupação com o excesso de abreviações, que é comum na linguagem do SMS. “Isso aí eu combato sempre. Elas abreviam muito, mudam a grafia, mas sempre converso para que tenham consciência disso”, explica.

Games
Apesar da popularidade dos videogames no país - 31% dos brasileiros têm videogame em casa segundo o Ibope - os jogos em português e on-line eram uma raridade no início dos anos 2000. Para jogar, as crianças brasileiras tinham que se contentar com games de alfabetização em inglês e com conteúdos que estavam longe de suas realidades.
O arquiteto de software Márcio Guedes, hoje com 42 anos, quis que sua filha Maria Luísa, que na época tinha cerca de 3 anos de idade (hoje a jovem tem 13 anos) tivesse acesso a um jogo em português.

“Meu hobby é programar. Desenvolvi durante quatro ou cinco finais de semana um jogo com animais em português para ela. O objetivo era ver a imagem do animal e selecionar a primeira letra do seu nome clicando nela em um alfabeto”, conta ao G1. “Na época, usei o Visual Basic para criar o jogo. Se eu fosse fazer hoje, usaria outras linguagens como Flash e seria muito mais rápido” conta.

No jogo original, em inglês, os animais eram africanos e a temática era toda americana. Guedes colocou animais da nossa fauna como onça-pintada e tatu, além de adaptar o idioma. “Ela adorava jogar. Até hoje minha filha tem o jogo instalado no computador, mas acho que de tão antigo ele não deve funcionar no Windows 7”. Ele conta que não chegou a passar o game para outras pessoas.

A filha mais nova de Guedes, Mariana, de 6 anos, pulou a etapa do game. Segundo ele, hoje existe muito mais conteúdo disponível e ele a encoraja a jogar games em inglês. Para a filha mais velha, ele pensa em criar um aplicativo para que, por meio do celular, ele seja avisado quando ela chegar na escola. “Ela começou a ir sozinha para as aulas e combinamos de ela enviar um SMS para mim assim que chegasse. Penso em criar algo que envie uma mensagem automaticamente assim que ela chegar à aula”.

Além de games, os filhos já serviram de inspiração para a criação de novas ferramentas tecnológicas. “Foi em 2009, bem no comecinho da movimentação das redes sociais. O meu filho teve uma doença chamada bronquiolite, que mistura bronquite com pneumonia. Foi num fim de semana e ele teve que ficar na UTI, onde os visitantes não podiam atender celular ou ligar para outras pessoas. Podia ficar só uma pessoa no quarto por vez”, conta Ray da Costa, de 39 anos, sócio de uma empresa de desenvolvimento de software.

Segundo Costa, a família queria ter informações e saber sobre o “índice de saturação dele”, que se chegasse ao número 100 mostraria que ele já estava bem de novo. “Pensei que, quem ficasse de plantão lá, podia passar o índice de saturação dele. Na época, achei que um sistema por SMS ficaria muito caro, então decidi criar um sistema no celular mesmo. Usei o E62 da Nokia, com Symbian”, conta Costa.

Assim, Costa criou uma aplicação para um celular usando a linguagem Java. A pessoa digita as informações num campo do programa e elas são levadas a um servidor, que as carrega em uma página da internet. Assim, de casa ou do trabalho, ele podia monitorar o índice, de hora em hora.

“O meu filho [Gustavo Haian Costa] ficou 16 dias na UTI, incluindo sete dias entubado. Ele tinha apenas um aninho na época. Eu fiz o sistema em quatro horas, na madrugada do primeiro dia. Minha mulher estava indo chorando pra casa, mas eu disse que ela poderia monitorar de casa. Em um dos dias da internação, ela acabou até dormindo com o notebook no colo, acompanhando a situação do Gustavo”, lembra Costa.

FONTE: CorpTV

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